CONHEÇA MELHOR
- Teresa E. Calgam
- Meu blog tem como objetivo mostrar a necessidade da ARTE como fonte de beleza e inspiração para vida e a CONSERVAÇÃO E RESTAURO como forma de manter a base histórica desta vida.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
Bonsai - a arte da delicadeza
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Química de Solventes
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Ilustrações de Norman Rockwell
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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
Os "Rubis" das Chagas dos Cristos
A produção de
imagens sacras em madeira policromada teve grande importância no paríodo
colonial brasileiro, em especial durante o chamado barroco mineiro. Mestres e
oficiais criaram grandes números de
obras de arte, que hoje constituem patrimônio inestimável. Dentro desse
acervo destacam-se as representações de Jesus Cristo, esculturas que revelam
bastante expressividade em diversas iconografias, como os Cristos crucificados,
as imagens do Senhor dos Passos, as de Nossa Senhora da Piedade e Outras. Tais
imagens estão presentes em oratórios, residências, capelas e altares das
igrejas, e existem inclusive esculturas articuladas, que podem mudar de postura,
utilizadas em procissões na Semana Santa.
Algumas das
técnicas empregadas pelos artistas e artesãos na criação destas imagens podem
revelar, ainda hoje, importantes informações sobre a arte e a ciência da época.
É o que acontece
com as gotículas de material vermelho brilhante e semitransparente, conhecidas
como os "rubis" das chagas de Cristo, presentes em esculturas no
período barroco em Minas Gerais (séculos XVIII e XIX). Tais gotículas imitam o
sangue das feridas dos Cristos e eram produzidas pelos fabricantes de tintas.
Estudos
realizados sobre essas esculturas, no Centro de Conservação e Restauração de
Bens Culturais Móveis (Cecor), da Universidade Federal de Minas Gerais, mostram
que os artistas do interior do Brasil conheciam as técnicas avançadas da época.
Pesquisar a tecnologia da obra de arte – uma das linhas e atuação do Cecor –
significa aprofundar o conhecimento sobre a imaginária de Minas Gerais.
Para estudar as
diversas camadas de tintas, vernizes e outros materiais aplicados sobre o
suporte em madeira, microamostras com alguns milímetros quadrados são removidas
em locais discretos da peça, preferencialmente em áreas de perda de policromia.
Tais amostras são submetidas a uma série de análises físico-químicas,
identificando-se a composição dos materiais usados. Os "escorridos" e
os pingos de sangue são feitos sobre a carnação dos cristos, policromia que
imita a pele, geralmente executada com técnica a óleo e pigmentos conhecidos
como "branco de chumbo" e
"vermelhão", de acordo com a descrição dos manuais de artes e ofícios
do século XVIII.
Na constituição
da tinta, o aglutinante, ou seja, o elemento responsável pela união dos
pigmentos para formar uma camada, definia a técnica da pintura. Na pintura a
óleo o aglutinante empregado era um óleo secativo : óleo de linhaça ou de
nozes. Na têmpera, existiam vários tipos : têmpera a cola (cola animal),
têmpera a ovo (ovo inteiro, clara ou gema de ovo) e outros. As carnações
rosadas eram feitas superpondo-se camadas coloridas sobre uma
"preparação" branca. Tal camada preparatória, uma mistura de carga
(gesso ou carbonato de cálcio) e cola animal, tinha a finalidade de preparar a
madeira e delinear as formas da escultura. O policromador aplicava, geralmente,
uma película de cola sobre esta camada branca para deixá-la menos absorvente,
antes de aplicar as tintas coloridas. A madeira também era protegida e
impermeabilizada por uma camada de cola, a que chamavam de encolagem.
As
representações de pingos de sangue foram estudadas por microscopia eletrônica
com detetor de energia dispersiva de raios X (EDS), em cerca de dez Cristos dos
séculos XVIII e XIX, pertencentes a igrejas e museus das cidades históricas de
Minas Gerais. As imagens examinadas incluem desde crucifixos de pequeno porte
até peças em tamanho natural, como o Senhor Bom Jesus dos Matosinhos (da cidade
de Santo Antônio do Pirapetinga, próxima a Ouro Preto) e o Cristo Crucificado
(do altar-mor da igreja de São Francisco de Assis, em Mariana), ambas
atribuídas à escola do mestre Piranga, importante escultor da época; além do
Senhor dos Passos e o Cristo Morto (da Igreja de Santo Antônio, em Santa
Bárbara).
Essa técnica de
análise, realizada na Escola de Engenharia da UFMG, Permite a localização e
determinação dos elementos químicos presentes na amostra. Em todas as obras, as
gotículas vermelhas apresentam enxofre (S) e arsênio (As) em sua composição,
elementos químicos característicos de um mineral conhecido como ouro-pigmento,
por sua cor natural amarelo-ouro. Uma receita da época explica em detalhes a
fabricação dos pingos de sangue, citando o uso deste mineral. Quando aquecido
em tubo de vidro fechado, o ouro-pigmento, ao sublimar (passar diretamente da
fase sólida para a gasosa) e, em seguida, resfriar, adquire uma coloração
vermelha com brilho resinoso.
Na tradição oral
e mesmo descrições de revistas de arte, tais gotas s ão chamadas de "rubis" ou
"resina vermelha" pelos estudiosos ou apreciadores da arte barroca,
mas na verdade as características físico-químicas do material não se aproximam
daquelas da pedra preciosa da qual tirou o nome e muito menos das de uma
resina. Confirmando o realismo e a dramaticidade do barroco, esses pingos de
sangue são encontrados em tamanhos variados, colados sobre a carnação das
esculturas.
Carlos Del
Negro, escritor e pesquisador da arte e arquitetura mineira do período
colonial, dá também ao material das gotas de sangue o nome de "ialde
queimado". Segundo esse autor, "o ialde amarelo, ouro pimenta
(As2S3), de cor amarela viva, peso específico 3,46, aquecido funde facilmente
em líquido vermelho (ponto de fusão 300°); pelo esfriamento solidifica-se em
massa vermelha de densidade 2,76 (sic)".
Del Negro revela ainda que o material trazido da Europa, está citado em
documento de 1801 e foi utilizado pelo mestre da pintura Manuel da Costa Ataíde
(1762-1830) na Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto.
A identificação
– através de métodos e técnicas avançadas – de materiais pictóricos antigos,
relacionando-os com o seu contexto histórico, permite compreender melhor a
origem p, a fabricação e a aplicação desses materiais, fornecendo informações
sobre sua evolução e estabilidade. No caso dos "rubis" das chagas dos
Cristos, a pesquisa confirmou ainda que os mestres artistas do barroco mineiro
conheciam os ofícios das artes européias. Tais subsídios são importantes para
historiadores, restauradores e pesquisadores da arte barroca, ajudando a
decifrar os mistérios das obras de arte do nosso rico patrimônio histórico.
* Claudina Maria Dutra Moresi
Centro de
Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis, Universidade Federal de
Minas Gerais
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